Conheça 5 peças imperdíveis dos teatros de São Paulo

Por fabiana seragusa

Para escolher uma peça para ver, você clica no roteiro do “Guia” e dá de cara com uma lista de 130 espetáculos em cartaz atualmente. Para facilitar, montamos uma seleção com cinco opções que valem a pena, com sessões em dias variados e até uma com entrada gratuita.

 


 

A TEMPESTADE

A primeira cena é tão lúdica, bonita e envolvente que já vale o ingresso. Mas o encantamento que o elenco e a direção de Gabriel Villela provocam no público se mantém até o final, em meio a tons de dourado, apetrechos espalhados pelo cenário e trilha tocada e cantada ao vivo pelos artistas.

Em cartaz no Tucarena até 22/11, a montagem do texto de Shakespeare, o último escrito pelo dramaturgo inglês, conta a história de Próspero, que tem poderes mágicos, é duque de Milão por direto, mas foi obrigado a se afastar e vive em uma ilha remota com sua filha. Como vingança, ele atrai ao local alguns de seus inimigos, como Antonio, seu irmão, que lhe usurpou a posição.

Celso Frateschi (como Próspero), Chico Carvalho (que faz um espírito assexuado e saltitante que realiza as vontades do duque) e Dagoberto Feliz, com suas trapalhadas ingênuas, são alguns dos destaques do elenco, todo ele muito talentoso. Os ingressos custam R$ 50 e R$ 70.

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OTELO

Outra peça de Shakespeare na lista. Aqui, o rancoroso, vingativo e persuasivo Iago ganha interpretação vigorosa de Rafael Maia, que fascina a plateia dando ênfase às atitudes falsas e aos pensamentos diabólicos do vilão.

Samuel de Assis, que faz Otelo, o general que provoca a fúria sem limites de Iago, também chama a atenção com sua presença forte —que vai da ternura à loucura. No elenco também tem Mel Lisboa (como a doce Desdêmona), Cesar Figueiredo, Antonio Ranieri, Yael Pecarovich, Glaucia Fonseca, Fabiano Augusto (que entrou no lugar de Ricardo Monastero) e Márcio Guimarães (responsável pela trilha, com músicas de Caetano Veloso).

Com direção de Debora Dubois, a montagem —que conta com belo cenário— foi viabilizada por meio de um financiamento coletivo. A temporada no Teatro Faap acaba em 10/12, com sessões às quartas e quintas (e ingresso a R$ 40).

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POEMA SUSPENSO PARA UMA CIDADE EM QUEDA

A estrutura grandiosa —de quatro metros— que serve de morada para os personagens da peça chama atenção logo de cara, mas vai ficando mais impactante aos poucos, quando gira, ganha cores e adquire vida.

Em cartaz no Teatro João Caetano até 22/11, com entrada gratuita, o espetáculo da Cia. Mungunzá mostra histórias paralelas que podem se cruzar ou não, e que aparecem a partir do relato de que um homem caiu do prédio mas nunca chegou ao chão. Anos se passam e ninguém sabe o que aconteceu.

Esse estado de suspensão permeia a vida das figuras em cena, que deixam em evidência a quantidade de coisas que acontecem a todo instante à nossa volta, a nossa relação com essas coisas, nossa incapacidade de mudar o que precisa ser mudado e nossa estagnação. Destaque para o monólogo da atriz Verônica Gentilin, já na parte final, falando sobre a relação com a morte do pai.

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O TOPO DA MONTANHA

É uma delícia a relação que se estabelece entre o personagem de Martin Luther King (Lázaro Ramos) e o da misteriosa camareira Camae (Taís Araújo). O espetáculo inventa as últimas horas de vida do ativista político americano, que morreu assassinado na sacada de um hotel em Memphis.

Em cartaz no Teatro Faap até 20/12, a versão original estreou em Londres em 2009 e ganhou montagem na Broadway em 2011. A misteriosa e debochada moça, que acaba passando um bom tempo conversando com o hóspede em seu quarto, fala com ele sobre amor, paixão, ideais, sonhos e justiça —temas universais que fazem sentido em qualquer época.

Além de fazer o público refletir sobre assuntos recorrentes (destaque para o discurso que a camareira faz na parte final da peça, falando sobre racismo e intolerância), a peça também nos mostra que mesmo um líder prestigiado como Luther King, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz  em 1064, é como cada um de nós. E que ninguém, por melhor que seja, é realmente insubstituível.

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O CAMAREIRO

Ver Tarcísio Meira no teatro já é motivo suficiente, ainda mais ao lado de Kiko Mascarenhas (idealizador do projeto) e de nomes como Chris Couto, Karen Coelho, Ravel Cabral, Silvio Matos e Karin Rodrigues.

O espetáculo escrito por Ronald Harwood e dirigido por Ulysses Cruz se passa durante a Segunda Guerra Mundial e fala de um velho ator de teatro —doente e rude com seus colegas— que tenta encenar “Rei Lear”, de Shakespeare”, mais uma vez. Mas, além de se sentir mal fisicamente, ele já nem se lembra direito das falas da peça, e é seu fiel camareiro quem o ajuda e o incentiva.

A peça, que marca a volta de Tarcísio aos palcos após 20 anos, fala tanto sobre velhice e dedicação quanto da paixão pelo teatro. E o ritmo lento da parte inicial estimula o público a se desligar de tudo e prestar atenção nos detalhes: em cada gesto dos atores, no cenário e no que está sendo criado em cena.

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