As obras surreais de Rafael Silveira são expressivas, divertidas, delicadas, multicoloridas, abrem margem a vários significados e chamam a atenção.
O artista curitibano de 36 anos, que desenha desde criança e já expôs
em Londres e Nova York, reuniu 15 de seus quadros na mostra inédita
“Circus Naturae”, em cartaz com entrada grátis até 12/9 na Choque Cultural.
A série de óleo sobre tela tem como tema o circo, que, segundo ele, serve como metáfora para o teatro da civilização —“é uma menção ao aspecto mais selvagem e primitivo do ser humano”. As obras estão à venda com preço entre R$ 5 mil e R$ 20 mil, mas ele diz que vai lançar uma gravura por R$ 300.
Um dos trabalhos de destaque de Rafael foi a criação da identidade visual do CD “Estandarte”, do Skank, em 2008 —e recentemente ele também desenvolveu uma arte para o cantor Felipe Cordeiro.
Abaixo, leia a entrevista com Rafael Silveira, que trabalha ao som de jazz e Sepultura, pode demorar anos no processo de idealização de suas pinturas e que quer colocar a mente do público para funcionar.
1) Quanto tempo em média você leva pra terminar uma obra?
Qual foi a mais demorada?
Minhas obras levam anos amadurecendo no sketchbook [rascunho] até ficarem prontas para serem executadas. Quando inicio, o processo varia muito. Uma obra muito pequena, leva pelo menos uma semana só de pintura, sem contar seu desenvolvimento anterior. Posso dizer que, em média, um mês para cada. Obras como “O Contraste É o Sentido”(uma escultura em forma de robô com 1,80 m de altura com todas as faces meticulosamente pintadas a óleo) e “O Gabinete Mágico” (um gabinete em tamanho real com pintura”trompe l’oeil” [técnica que cria ilusão ótica]) levaram três meses cada.
2) Você tem todas as ideias definidas antes de começar as pinturas ou tem coisa que surge durante o processo?
Normalmente a maior parte das ideias já está pré-definida. Neste ponto sou um pouco metódico. Mas confesso que, em algumas obras, ideias novas vão surgindo no decorrer do processo e sendo inseridas.
3) O que você busca dizer com suas obras?
Meu processo criativo acontece muito por um fluxo de consciência, e eu me permito deixar esta questão do entendimento para um segundo momento. É uma forma de não condenar minha obra à superficialidade da mente nem a questões momentâneas da realidade brasileira. Eu realmente acredito que não utilizamos a capacidade total de nossas mentes, e criar antes e perguntar depois é uma forma que encontrei de manter as portas mentais abertas e poder acessar todo esse potencial. É na intimidade dos pensamentos que se formam todas as atitudes externas, e é nesse campo psíquico que eu gosto de transitar com a minha obra. Imerso nessa introspecção, eu derreto paradigmas e proponho novas realidades. No fundo, o mundo nada mais é do que a consequência de sucessivas escolhas e decisões tomadas pelas pessoas. A mensagem acaba sendo um pouco a quebra do estado de condicionamento, e o despertar para novas possibilidades.
4) Por que você escolheu o universo do circo para esta série?
Eu trabalho a questão do circo como metáfora do teatro da civilização. Há também uma inusitada fusão desse universo circense com as ciências naturais. É uma menção ao aspecto mais selvagem e primitivo do ser humano.
5) Você escuta músicas enquanto pinta? Quais?
Escuto muito de tudo… desde bandas pesadas como Cavalera Conspiracy, Mastodon, Sepultura, Krisiun… até “easy listening” como Ray Coniff. Escuto também muito jazz, soul, garage, ska… Mas os hits mesmo são as instrumentais. Citaria bandas como The Budos Band e Flat Earth Society, que foram grupos que pude ver pessoalmente e são incríveis.
6) As obras expostas na Choque Cultural estarão à venda? Qual o preço médio?
Sim, tem obras de R$ 5 mil a R$ 20 mil. Vou lançar também uma gravura incrível, com valor mais acessível, R$ 300.
7) Além do disco do Skank, já ilustrou álbuns de outras bandas?
O disco do Skank foi incrível de fazer! Fiz recentemente uma arte para o Felipe Cordeiro, que também foi bem bacana. Tem também as bandas mais alternativas… Okotô, Twinpines, Los Diaños, e vou lançar em breve um vinil 12″da minha banda nova, “Os Transtornados do Ritmo Antigo”. Adoro fazer capas de disco!
8) Quais seus artistas preferidos?
São muitos, mas posso citar Robert Crumb, Basil Wolverton, Charles Burns, Mark Ryden, Todd Schorr, Ryan Heshka, Femke Hiemstra, Lourenço Mutarelli, Jaca…