Peça de Walcyr Carrasco retrata taxista homofóbico que rejeita a ex-mulher

Por fabiana seragusa

A peça “Desamor” foi escrita por Walcyr Carrasco especialmente para o ator Dionisio Neto, que encena o drama desde 2012 —a última sessão em São Paulo será neste sábado (1º/8), na SP Escola de Teatro.

Na história, criada com base numa experiência real presenciada pelo autor (que tomou um táxi com um motorista que mantinha encontros sexuais com seus clientes), um taxista machista e homofóbico rejeita a ex-mulher e o filho.

Em um boteco sujo, em meio a cervejas e a pastéis frios, ele inicia um diálogo solitário sobre suas atitudes, seu tipo de vida e sua relação com a família —questionamentos que surgem após um gesto de generosidade de um cliente. Temas como homossexualidade, paixão e preconceitos são discutidos.

Além de assinar “Desamor”, Walcyr Carrasco traduziu e adaptou a comédia “Loucas por Eles”, que está em cartaz no Teatro Augusta com Suely Franco, Vera Mancini, Cynthia Falabella, Fafá Rennó e Ellen Rocche no elenco.

Abaixo, leia a entrevista com Walcyr, que também está na televisão com a novela “Verdades Secretas”, da Globo, da qual é autor.

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ENTREVISTA WALCYR CARRASCO

Colocar o tema do preconceito mais e mais em destaque na mídia vai fazer, na sua visão, diminuir o ódio que algumas pessoas ainda têm em relação aos gays?
Veja, eu acredito que o autor que se dedica a escrever como uma missão social estaria melhor fazendo teses, discursos. O ato criativo implica num desprendimento, em deixar que venham à tona emoções e pensamentos muitas vezes não racionalizados anteriormente. Mas acredito que o resultado de peças como “Desamor” é positivo sim, do ponto de vista social, porque coloca a homofobia em discussão. Mas esse é um resultado que ao sentar para escrever eu não previa. Aconteceu, e fico satisfeito com isso.

Você acha que algum dia esses assuntos abordados, como preconceito e medo de assumir seus próprios desejos, vão ser “coisas do passado”?
A sociedade vive em constante transformação. E acredito, sim, na evolução dos costumes. Eu acho que já começa a acontecer uma liberação muito maior entre os jovens, onde já não rola tanto preconceito.

Já “Loucas por Eles” é bem engraçada. Para você, é igualmente fácil (ou difícil) criar e adaptar temas dramáticos e cômicos?
Ah, eu gosto de estímulos diferentes. Escrevo livros infantis e juvenis também. Tenho mais de 60 publicados, muitos adotados por escolas de todo o país. Quando eu li o original de “Loucas por Eles”, pedi para traduzir e adaptar, foi um ensinamento, pude mergulhar na carpintaria dos autores originais, que são muito bons.

Como surgiu seu envolvimento com a peça?
Eu sou amigo do Fernando Cardoso, o produtor [e diretor], e ele me deu um toque. Pedi para ler o texto e pedi para adaptar, porque ri muito, mas ao mesmo tempo a peça tem momentos intensos, profundos. Eu acho que justamente essa mescla entre o humor e a psicologia das mulheres em cena é que tornam a peça um sucesso. E também a originalidade do espaço, pois ela acontece num aeroporto, que está em cena, com avião e tudo mais.

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