Em ‘ménage à trois’ teatral, atores se revezam em cena e fascinam plateia

Por fabiana seragusa

Para quem gosta de teatro é uma delícia. Em “Oleanna”, uma aluna e um professor conversam, divagam e brigam sobre diversos assuntos —mas, neste último fim de semana em cartaz em São Paulo, o professor está sendo interpretado ora por Miwa Yanagizawa, ora por Marcos Breda.

Ela começa, ele entra em cena minutos depois, ela aguarda para retornar
e ele espera a “deixa” para assumir o posto novamente. E os dois se revezam no palco até o final, de forma totalmente natural, mesmo com a mudança de clima que cada um provoca quando entra na história.

“Isso exige dois tipos de concentração”, comentou Breda no bate-papo que o elenco e o diretor Gustavo Paso realizaram após a sessão desta sexta (3), no Sesc Pompeia. “Porque, ao mesmo tempo em que o ator veste o personagem e contracena com a atriz [Luciana Fávero], ele fica em outro nível, em um outro registro, e contracena entre intérpretes. É como se fosse uma encruzilhada, você atua em duas direções. É uma versão ‘ménage à trois’ teatral.”

É curioso e fascinante ver como cada um deles, Marcos e Miwa, observa a atuação do outro e se prepara para o momento de pegar o bonde e continuar a história. Tudo ali, pertinho da plateia.

Marcos Breda e Luciana Fávero em cena de "Oleanna"
Marcos Breda e Luciana Fávero em cena de “Oleanna” (Mônica Vilela/Divulgação)

TEMPORADA E DISCUSSÃO

A temporada termina neste domingo (5), mas, segundo o diretor, eles da CiaTeatro Epigenia já estão tentando fechar novas apresentações em São Paulo. O texto de “Oleanna” foi escrito em 1992 por David Mamet, e o filme, lançado em 1994. Em 1996, virou peça por aqui com Antonio Fagundes e Mara Carvalho.

A história envolve três encontros entre o professor e a aluna. Ela procura o educador para tentar conseguir uma nota maior. A jovem é meio confusa, não consegue entender muito bem o que ele diz, o que ele explica, o que ele pensa. Ele tenta falar de seus pontos de vista e busca ajeitar a situação.

Mas as relações vão se complicando de tal forma que surge até uma acusação de assédio sexual. Quem está certo ou errado? Tem lado certo e errado? A peça coloca em discussão as relações de poder, a incomunicabilidade, a falta de “olhar” para o outro com atenção e o perigo de dar espaço em sua vida para pessoas que você não consegue direito.

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